sábado, 29 de agosto de 2009

Minas e Atascanços !

Uma Berliet "atascada" até aos eixos... e agora ?


Os guinchos ligados até partir os cabos de aço !



Atapetar a picada com ramagem de árvores era uma das soluções mais utilizadas... antes de atascar. Depois de atascar, os sacos de serapilheira, as ramagens eram a única solução de que geralmente se dispunha.

Quantas vezes se tinha de transferir a carga da viatura atascada, ou esperar dois dias que viesse o sol... para continuar a viagem !



Depois das minas, os ATASCANÇOS eram o maior problema das colunas militares.
Quando chegava a época das chuvas, naquelas picadas em terrenos alagadiços, principalmente com viaturas carregadas era quase impossível transitar.
Para além dos guinchos das viaturas, os Sapadores dispunham de um TIRFORs com um cabo de 25 mm que arrastava qualquer Berliet desde que houvesse uma árvore onde amarrar o dito cujo aparato. De vez em quando... arrancavam-se umas árvores...

Um certo dia a caminho do Candulo, antes das Pedreiras, atascamos seis Berliets em série. Na tentativa de salvar a última fomos fazendo comboio ao ponto de ficar tudo atascado !
Resultado: esperar, dois dias, que parasse de chover... chegou ao Candulo a carga toda estragada!

Quando se tentava rebocar a última viatura com o cabo de aço esticado foi dada ordem a um soldado sapador, de alcunha o "Brasileiro", para que se desviasse do cabo de aço pois este podia partir e provocar-lhe a morte.
Como ele não obedecesse, o furriel enfiou-lhe com a chapa de couce da espingarda G3 no toráx fazendo tombar por terra o soldado desobediente. O soldado jurou ali mesmo que na primeira oportunidade mataria o furriel mostrando-lhe a bala marcada.
Passados cinco minutos rompeu-se o cabo de aço que cortou uma árvore de cerca de 20 cm de diâmetro !
O "Brasileiro" ao verificar o sucedido desata a chorar... e corre para o furriel abraça-o e diz-lhe:
Você salvou-me a vida, bendita coronhada que me deu. O furriel ordenou-lhe de novo: Vai para a tua viatura, hoje não fazes mais nada, reza à Nossa Senhora de Fátima pois já tiveste o teu dia de sorte!

Moral da história: Também na guerra se pode passar de besta a bestial... se não tivesse partido o cabo de aço, o furriel era uma besta e talvez pudesse ter tido um processo disciplinar.
Como aconteceu o contrário, viu reforçada a sua autoridade perante o grupo que comandava e ainda ouviu de um soldado moçambicano este elogio : o nosso "furriel tem feitiço"!
Há dias de sorte!

As fotos são de Orlando Azevedo (CCaç.2706) e Júlio Marques (BCaç.2836).

Um conto de:
Ernesto Fernandes
Ex-furriel miliciano sapador do BCaç.2914

2 comentários:

  1. Sera que passados tantos anos, esse mesmo furriel ainda é vivo???

    Abraços a todos os ULTIMOS HEROIS DE PORTUGAL.

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  2. Agradecemos ao camarada Dias que envie o seu endereço de email para serramecula@gmail.com.
    O gestor do Blogue
    Ernesto Penedones

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