terça-feira, 30 de junho de 2009

Um Homem de causas


O Pedro, de visita à Reserva do Niassa, com o moçambicano sr. Januário responsável local de um dos acampamentos da Reserva.



Pedro Penedones Cabeleira é um jovem que tem dedicado grande parte da sua vida ao combate a grandes doenças que flagelam as populações mais pobres de África.
A cólera, a malária, a HIV-sida são, para além da fome, os maiores flagelos do século XXI.
O Pedro já esteve na Mauritânia, na Guiné-Bissau, em Luanda e na Amazónia "profunda" (Brasil).
Agora trabalha, para a ONG - Médicus Mundi, na província de Cabo Delgado em Moçambique.

Todas as semanas percorre aquelas picadas - antigas "estradas da morte" no tempo da guerra colonial - entre Pemba, Macomia, Montepuez e Mueda.

Nós, os veteranos da guerra colonial (principalmente aqueles que gostam de Moçambique e do seu Povo), queremos manifestar ao Pedro a nossa estima e consideração pela nobreza da missão que está a desempenhar.
Obrigado Pedro!
A tua reportagem sobre Mecula, para o blog, foi a melhor prenda que nos podias dar.

São estes portugueses - homens de causas - tais como o Pedro Cabeleira e outros bastante mais conhecidos, Dr. Fernando Nobre da AMI e o Eng. António Guterres - Alto Comissário da ONU, que fazem um mundo melhor!

Também foi a MECULA

O "freelancer" enviado pelo nosso Blog chegou a Mecula no dia 26 de Junho de 2009 !


Uma bela imagem de Mecula 2009 com o monumento pintado com as cores da bandeira nacional moçambicana, muito bem conservado, marcando a história militar de Mecula ao longo do século XX.


A história é uma coisa que nunca se deve apagar... está aqui um bom exemplo de como o Povo Moçambicano soube preservar um monumento que foi construído no tempo colonial.
Este monumento consagra: a luta dos defensores de Mecula na primeira guerra mundial, a luta da guerra colonial portuguesa e também a luta de libertação do Povo Moçambicano!



Camaradas veteranos de guerra e amigos de Mecula, vamos ter muitas surpresas nos próximos posts.

Para ver a caixa do correio sobre este post, ler aqui no Arquivo da Serra.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Cancioneiro do Niassa

No post de hoje vamos "tentar" justificar as razões das divergências entre os militares milicianos e os seus camaradas do Quadro Permanente.
Uma letra do Cancioneiro, começava assim: " Estou farto deles... só mandam vir... só mandam vir... e não fazem nada" !
Era uma espécie de grito de revolta que retratava a diferença de estar e do sentir a guerra!

As forças armadas são uma organização muito hierarquizada, altamente disciplinada, uma organização vertical em forma de pirâmide que no seu vértice superior tem um general.
Os militares na sua cultura e espírito de corpo organizado estão obrigados à obediência através da sua Cadeia de Comando.
Quem não quisesse ter problemas de promoção na carreira, não podia ( pelo menos não devia ) tomar iniciativas pessoais.
Para além do RDM ( Regulamento de Disciplina Militar ), havia as NEPs ( Normas de Execução Permanente ) onde constavam todos os procedimentos da guerra.
A grande maioria dos militares "profissionais" limitavam-se a fazer aquilo que, constava das NEPs ou em casos omissos só se, tivessem autorização expressa da Cadeia de Comando.
A isto chama-se uma ORGANIZAÇÃO PASSIVA.

Do outro lado está um exército de milicianos, alferes e furriéis da mesma idade, colegas de liceu e escola técnica, tratam-se por tu e dividem as decisões, dividem o pão e o sangue quando for necessário.
Eram a estrutura executiva da guerra, estavam na frente de combate ( pelotão ou secção ) e nos serviços e nas especialidades.
Aqui não se disputavam promoções individuais de carreira militar... não davam muita importância à Cadeia de Comando... funcionavam em rede... existia uma grande cumplicidade e solidariedade entre eles.
As decisões eram tomadas na hora e de acordo com as necessidades, aproveitando sinergias disponíveis e tentando fazer obra, assumindo todas as responsabilidades ( pior já nada lhes podia acontecer.... no caso de irem para a prisão estavam livres dum tiro ou de pisar uma mina !).
A isto chama-se uma ORGANIZAÇÃO ACTIVA.

Na mesma guerra, coabitando duas sensibilidades tão distintas tinha que haver grandes divergências no modo de estar e sentir a guerra.
Nem sempre a amizade individual conseguia superar o posicionamento de cada um dos grupos, sendo o CANCIONEIRO do NIASSA um importante documento histórico que retrata bem o sentimento da tropa dos milicianos, e a crítica cerrada aos oficiais do Estado Maior que longe da guerra lá no Q.G. de Nampula "só mandavam papais"!

Um texto de opinião de:
Ernesto P. Fernandes
Ex - Furriel Miliciano Sapador do BCaç. 2914

Na esplanada da Messe de Sargentos

Da esquerda para a direita:
Furriéis: Rolo, Martins, Castela, Valente, Ferreira, Saraiva (de camuflado, está de serviço - BCaç. 2914).

domingo, 28 de junho de 2009

A picada de Mecula

Da esquerda para a direita: a casa do cantineiro Carlindo, a casa do secretário da Administração, o "palácio" do Administrador... e depois a já conhecida praça principal de Mecula.

Lá ao fundo a picada de Mecula.... chegando ao cruzamento do Candulo virava-se à direita para o Candulo ou seguia-se em frente para Mussoma.

Esta foto foi enviada ao blog por Júlio Marques do BCaç. 2836.

Imagens contraditórias...

Aqui a vida é dura... obrigam-nos a trabalhar... ( BCaç. 2914 )


Até parece que estão na praia... ( um rio seco a caminho de Nantuego onde fomos buscar as camionetas de areia).

As fotos que se enviavam para a família podiam conter imagens tão contraditórias como estas... os optimistas "pintavam" tudo cor de rosa... os pessimistas mostravam tudo negro!

sábado, 27 de junho de 2009

A história de uma machamba

O "lendário" 165 da Massey Ferguson de 62 Hp e quatro cilindros


O tractor do quartel de Mecula, um Massey Ferguson, com atrelado

A história completa desta machamba, pode ser lida aqui, no ARQUIVO da SERRA.

Dava gosto vê-lo, ao Amândio Gomes, antes do nascer o sol a regar as plantas. Ele e o seu adjunto ( um moçambicano contratado ) a fazerem as replantações e semear todos os dias um canteiro de alfaces.
A meio da manhã lá ia o Amândio fazer as entregas aos seus clientes - ( messe de oficiais e sargentos e à cozinha do rancho geral).

Os produtos da machamba, eram:
Alfaces, tomates, cenouras, couve galega, penca de Chaves, couve de Bruxelas, feijão verde, feijão de trepar e feijão rasteiro, pimentos, cebolas, beringelas, rabanetes, ervilhas, pepinos, melões, melancias e até consegimos ter ABACAXI e a toda a volta do quartel uma plantação de papaieiras.
Postes e arame farpado ( era o arame que havia.. ) para os tomateiros em bardo como uma vinha! Tomateiros podados e sulfatados!

Seguramente a melhor machamba do Niassa!

Nunca mais vi o Amândio, dizem-me que tem estado emigrado nos Estados Unidos, espero que um dia possa ler este texto, ainda hoje lhe estamos agradecidos pela sua dedicação à machamba da qual saíam "os frescos" que nos faziam tão bem à nossa saúde.
Obrigado, Amândio.

Era bonito ver as crianças moçambicanas comer tomates como quem come maçãs... afinal esta era "outra guerra" que matava a fome... e não matava pessoas!

Ernesto P. Fernandes
Ex- Furriel Miliciano Sapador da CCS do BCaç. 2914

A malta da ferrugem do BCaç. 2914

O alferes Costa com a sua equipa de mecânicos auto

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O dono da obra do volei


Este post é dedicado ao Castela, furriel enfermeiro da CCS do BCaç. 2914, pela sua capacidade de liderança ao mobilizar os camaradas furriéis da CCS e da CCaç. 2707 para a obra do campo de voleibol.



Um grupo de trabalhadores moçambicanos do aldeamento de Mecula que foram connosco buscar areia para a Admistração de Posto de Mecula e nos ajudaram a carregar a nossa Berliet de areia.


A equipa que foi buscar a camioneta de areia


O furriel Castela e o furriel Valente ( Transmissões ) na Berliet no momento da carga de areia.

O condutor do Posto Administrativo de Mecula com a sua camioneta

Dois cipaios, do Posto de Administrativo de Mecula, junto à sua camioneta.


O Castela veio a falecer, em Lisboa, nos anos setenta ( segundo consta ) vítima de acidente. Paz à sua alma.

O campo de voleibol

Uma obra da autoria dos furriéis da CCS e da C.Caç 2707 que foram buscar a pedra à picada de Nantuego... depois os acabamentos com a arte e engenho foram obra do pessoal sapador. A obra também só foi possível, graças a um favor de um dos nossos amigos da companhia de engenharia que "desenrascou" uns sacos de cimento...





Um jogo no dia da inauguração

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mecula no tempo de BCaç. 2836


Vista do quartel. Nesta fotografia via-se o campo de futebol, que posteriormente foi arranjado e construída uma pequena bancada.
No nosso tempo todas as famílias dos militares morava em frente ao posto de transmissões do outro lado da rua, essa casas também foram construídas por nós ( as chamadas " flats " ).

A capela, em frente à porta de armas, foi reconstruída e ampliada também por nós ( BCaç.2836 )

A Escola Capela foi construída pelo nosso batalhão ( BCaç. 2886 )

Monumento aos mortos da 1ª Guerra Mundial, foi recuperado e ajardinado por nós ( BCaç.2836 ) para a visita da Rádio Televisão Portuguesa que posteriormente deu uma grande reportagem na Metrópole.


Nota: Estas imagens e os textos comentando as fotos, foram material fornecido por um "Visitante da Serra"- ( Júlio Marques - veterano de guerra da CCS do BCaç. 2836 )


O Batalhão de Caçadores 2836 chegou a Mecula no dia 10 de Fevereiro de 1968, saindo no dia 12 de Setembro de 1969 a caminho de Tete.
Segundo sabemos, foi o primeiro Batalhão a ter a sede da CCS em Mecula, com uma companhia no Candulo e outra em Nantuego.
Quando tivermos recolhido mais informação, publicaremos o historial do BCaç. 2836.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dia Feriado em Mecula

Expo Mecula: material capturado ( I I )

O Furriel Enfermeiro Rêpas da CCaç. 2707, está admirado com tamanho desta "seringa" !


Deste lote, já temos documentação, sabemos que foi material apreendido no ano de 1971 pela CCaç. 2707.

O objectivo deste blog é escrever com exactidão a história militar de Mecula, para tal é necessária a colaboração de todos aqueles que ainda tenham guardado nas suas gavetas documentos daquele tempo.
Aqui está um caso, em que duas fotos ( com anotações de datas no verso ) serviram para tirar as dúvidas ao gestor do blog.
Obrigado, Rêpas.

Quando Baltazar foi " às compras "...

Chamba era um posto administrativo fronteiriço, a norte do Candulo, junto ao rio Rovuma.
O Administrador de Posto, daquele tempo, chamava-se Sanches e costumava usar uma espingarda Winchester daquelas que se viam no cinema nos filmes do Texas!
A CCaç. 2706 colocava nesse destacamento um pelotão sendo a única força militar a assegurar a soberania naquelas paragens.
Imaginem os perigos que corriam, e no tempo das chuvas a fome que passavam... sózinhos a dezenas de quilómetros da sede da companhia.
Certo dia o alferes Baltazar e as suas tropas decidiram ir "às compras" a um dos "shopping_center", da Frelimo, do outro lado do rio.
Duma assentada trouxeram o saco cheio de material de guerra e compraram uma guerra!

Nos próximos "posts" os camaradas da CCaç. 2706 vão contar a verdadeira história dos "contrabandistas do rio... com jacarés à mistura"!

Quem mexe num "ninho de vespas", mete-se em sarilhos... óbviamente o pelotão que veio a seguir "pagou as favas"; mas essa é outra história para os próximos capítulos.

Nota: Retiramos as imagens deste post referentes ao material de guerra capturado, por informações de última hora documentadas pelo Rêpas; a maior parte desse material capturado foi o resultado de duas operações da CCaç. 2707 nos montes Jaús - ( Jaguar VII e Jaguar IX ).
Quando tivermos imagens referentes à operação de Chamba, serão publicadas neste post.

A marreta de chumbo

Costuma dizer-se que "a necessidade aguça o engenho", mas nem ao diabo lembraria.. em plena África profunda, fundir chumbo para fazer marretas.
Concerteza que havia no quartel algumas baterias velhas, naquele tempo ainda não havia "ecopontos"... e na forja da oficina auto fundiram o chumbo e com molde de areia lhe deram a forma.
Recordo-me que a marreta estava pintada de verde azeitona e até tinha o cabo envernizado.
O pelotão de sapadores tinha à sua guarda uma tenda de campanha tipo "posto de comando" e a dita cuja marreta fazia parte do "kit" das estacas das espias.
Um belo dia, quando vamos utilizar a marreta, ao enterrar uma estaca, logo à primeira martelada ficou a marreta espetada na estaca de ferro.
Afinal a marreta nova era de chumbo!
O alferes sapador que tinha (enfiado o barrete) ao receber a marreta do BCaç. 2880, mandou-a reparar e guardar religiosamente... para tentar entregar em 1972 aos camaradas do BArt. 3887.

Foi mais uma praxe aos checas, acabados de chegar... que terá acontecido à marreta no fim da guerra...... talvez os camaradas do BArt. 3887 possam dizer-nos qualquer coisa... se porventura a chegaram a utilizar!

Cavilhas de pau preto...

O Unimog "Pincha" da Mercedes com o guincho e cabo de aço


Nas entregas de material na hora da despedida há sempre alguém que usa a máxima de: " a tropa manda desenrascar"!
Por mais autos de destruição que se façam durante o tempo de comissão... e tantas minas a rebentar que dão para justificar tanta coisa... mas, na hora de ir embora havia sempre que faltar qualquer coisa... os checas querem conferir tudo peça a peça... pudera, acabam de chegar, tem todo o tempo do mundo a seu favor.

Na nossa primeira missão do pelotão de sapadores do BCaç. 2914 tivemos de regressar mais cedo ao quartel porque, ao tentar arrastar a primeira árvore com o guincho do pincha Mercedes, o aparato caiu aos pés de um sapador.

O condutor foi falar com o sargento mecânico e tenta justificar o sucedido; ele, condutor tinha tido todo o cuidado e cumprido todas as regras de segurança.
O sargento examina o guincho, desata à gargalhada e diz para o condutor: ó pá estás lixado, partiste uma cavilha de pau preto! O pior é que em Mecula não temos torneiro e a peça tem que vir da África do Sul !

Pobres checas!

Alguém do BCaç. 2880, tinha tido a arte e o engenho de nos "armadilhar" o carro e fazer esta "praxe" aos checas!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Expo Mecula: material capturado ( I )










Granadas de mão defensivas


Detonadores eléctricos


Este era o rádio onde o pessoal de Mecula passou a ouvir a "Voz da Frelimo", pois tinha as frequências exactas para o efeito.

Munições para canhão sem recuo




Com a ajuda dos camaradas participantes nas operações militares, oportunamente publicamos no blog a proveniência deste material.
A " Expo_Mecula" deve ter sido uma daquelas sessões da APSICO, realizadas pelos Pelrec...

Batalhões e Companhias em Mecula

Esta foto do "Felgueiras" - Grande Chefe de Cozinha da Messe - é um autêntico documento histórico, por ter sido tirada junto ao mastro da porta de armas.
Estão ali gravados os nomes de todas as unidades militares que passaram por Mecula até Maio de 1972.
Por ordem cronológica:
CArt. 636, CArt. 1595, CCaç. 1653, BCaç. 2836, BCaç. 2880, BCaç. 2914.

De 1972 a 1974, esteve o BArt. 3887; não sabemos nesta data, se foram os últimos a fechar a porta da guerra!

A festa de S. João em 1970

O Furriel Fotocine ( Fernando Ferreira ) costumava receber umas caixas de madeira fina... que o sr. Baleiras ( seu pai ) fabricava e enviava pelo correio com umas garrafas de vinho verde branco e Mateus Rosé.
No dia 24 de Junho de 1970, festejamos o S. João com o vinho acabado de chegar!

sábado, 13 de junho de 2009

O regresso de uma operação militar

As imagens referem-se ao regresso da CCaç. 2707, ao quartel de Mecula, depois de uma operação algures no mato.


Pela curiosidade dos camaradas da CCS, os operacionais devem ter apanhado "armamento" inimigo...


Os intervenientes depois de verem as fotos... vão concerteza enviar a verdadeira história... aguardemos...... o próximo post na caixa do correio.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O correio de Mecula

O piquete está picar a pista, o seguro morreu de velho!


O táxi aéreo acaba de aterrar


A ansiedade é grande.... os últimos palpites... o Zé da Avó... arranja a boina para ficar bem na fotografia..


Toda a gente já na pista, a saudação da praxe aos visitantes acabados de chegar...