sexta-feira, 5 de junho de 2009

O testemunho de um amigo do Alferes Vieira

A "praia" de Mussoma - vista da ponte do Rio Lugenda


A ponte sobre o rio Lugenda junto a Mussoma
Fotos recolhidas na internet ( de autor: desconhecido )



Boa tarde, amigo Fernandes.
Era minha intenção aproveitar o próximo fim de semana para começar a organizar e enviar de forma sistematizada a colaboração que te prometi para o blog.
No entanto, ao ler o texto com o título acima indicado, publicado no dia 02.06.2009, não resisti à tentação de adiantar desde já o que sei sobre o assunto.
Fica o aviso, para este caso e para casos futuros, que o que direi é " a minha verdade ", o que eu interiorizei e guardo na minha memória, que ainda não me deixa ficar mal! Por enquanto...
Apesar disso, fico receptivo a qualquer correcção vinda de alguém que, melhor informado do que eu, tenha uma versão diferente dos factos.
Mas vamos direitos ao assunto:
JOSÉ MARIA ALMEIDA VIEIRA, Alferes miliciano de Infantaria
nasceu em Abragão, concelho de Penafiel, tendo morrido no Niassa nas condições já referidas.
No entanto, há um factor muito importante que interessa lembrar e que mostra bem o espírito de dedicação e abnegação desse jovem e inditoso oficial.
Como saberão os operacionais melhor do que eu, a actividade do pessoal do pelotão que estivesse colocado no destacamento de Mussoma era, essencialmente, garantir a segurança da ponte sobre o rio Lugenda, pois esta tinha uma grande importância estratégica para a ligação com o nordeste do Niassa, até ao rio Rovuma, possibilitando as deslocações de pessoal e os reabastecimentos.
Isso não significa que não realizassem patrulhas de reconhecimento, de curta duração e com efectivos limitados.
Como todos se recordarão, o correio destinado ao S. P. M. 1544, o da C. CAÇ. 2707, ficava em Mecula, deixado pelo táxi aéreo da TAN ou da EMAC, pois a pista de Mussoma não estava operacional. Daqui resultava que o correio destinado ao pessoal do pelotão destacado em Mussoma só era entregue quando houvesse coluna de Mecula para Marrupa ou quando o pessoal de Mussoma vinha a Mecula reabastecer-se.
Sensibilizado por esta situação - e todos sabemos a ansiedade que passávamos à espera do correio - o Alferes Vieira, apesar de estar no fim da comissão, quis deixar em Mussoma melhores condições que aquelas que lá encontramos e "mobilizou" o pessoal militar e civil para a grande tarefa de capinar a pista de aviação. Pretendia, desse modo, que os próximos pelotões que fossem lá colocados já pudessem receber directamente o correio e os "frescos" que nos eram enviados.
Concluída essa tarefa, informou superiormente e pediu a vistoria à pista, para que pudesse ser aprovada e aberta à aviação civil e militar.
E foi num regresso do nosso Comandante do B. CAÇ. 2914, Major António Barata Alves, que vinha de uma reunião do Comando do Sector, então já em Vila Cabral - em 1970 ainda era em Marrupa - que pela primeira vez desde há muitos anos foi utilizada a pista de Mussoma, ainda só para ensaio.
Satisfeito com o trabalho, o Major Barata Alves perguntou ao Alferes Vieira se ele tinha participado numa operação junto ao Rovuma, onde existira um aldeamento clandestino da Frelimo, por nós destruído. Como a resposta foi afirmativa, o Major Barata Alves terá pedido ao Alferes Vieira para o acompanhar ao local na D. O., num voo de reconhecimento, pois constava em Vila Cabral que esse aldeamento estava novamente a ser utilizado.
Infelizmente para o Alferes Vieira, a informação que tinha o Comando do Sector confirmou-se e as consequências foram as que conhecemos e lamentamos.
Para concluir, só mais umas palavras: se o Alferes Vieira fizesse de Mussoma uma "colónia de férias" e estivesse quietinho, limitando-se a exercer as funções de rotina, não tinha lá ido o avião, não teria entrado nele e, provavelmente, ainda agora nos daria o prazer da sua companhia. Mas era um homem bom e altruista e foi vítima das suas qualidades.
Deus te tenha em descanso, ALFERES VIEIRA !

Sérgio de Jesus Rêpas
( Ex-Furriel Miliciano Enfermeiro da C. CAÇ. 2707 )

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