sábado, 27 de fevereiro de 2010

A história do QUARTEL NOVO de Mecula


OS TESTEMUNHOS:
Fernando Pereira, ex-1º cabo rádiotelefonista da CCS do BART 639, disse o seguinte:  
Aqui estou, para dizer que pertenci à CCS do BART 639, que esteve em Marrupa, de Agosto 1964 a Outubro 1966.
A CART 636, inicialmente (em ABR.64), ficou colocada em MALEMA e em 09/08/64, veio para junto de nós, (CCS, do BART 639).
Ao ver aqui, neste blogue, as imagens dos batelões do Lugenda, fez-me recordar o longínquo dia 08/12/1964 em que atravessei esse rio, num batelão para ir a Mecula, com regresso a Marrupa, no dia imediato. Fomos levar duas cargas de materiais de construção para o futuro quartel. Naquela data apenas estava ali destacado um pelotão da CART 636 utilizando as antigas instalações.
Mais tarde foi ali colocada toda a CART 636 onde permaneceu até OUT.66. (fim de citação)

Fernando Pereira, disse  também que:
As instalações do quartel de Marrupa, em 08/12/1964 (quando fui a Mecula), estam praticamente concluídas. Em 04/11/1964, havíamos ocupado as casernas novas (deixando as tendas). O refeitório estava pronto, restando, ali e acolá, alguns acabamentos menos vultosos.
Os materiais de construção, levados para Mecula, eram essencialmente, madeiras de cofragens, barrotes de escoramento e pranchas, que haviam sido usadas nas obras do nosso aquartelamento de Marrupa e que se destinaram a serem re-utilizadas nas obras do novo quartel de Mecula e, eventualmente, outros artigos que não recordo.(fim de citação)
Fernando Pereira, descreve aqui a sua viagem a Mecula , o texto integral está no arquivo da Serra (faça o link clicando com o rato)

Fernando Pereira, diz mais:
Por um amigo, "Tino", foi-me confirmado que fez parte do primeiro pelotão da CART 636 que foi destacado para Mecula... e que foram então ocupar as instalações existentes na Serra de Mecula.
Com a ida de toda Companhia para Mecula (Jun.65), esta ficou instalada em "palhotas" improvisadas, na encosta da serra. Entretanto, já haviam sido iniciadas as obras do novo quartel, por uma Companhia,de Engenharia (CENG), cujo nome não recorda.Tais obras, vieram a ficar concluidas em finais de 1965.
Nesta conformidade, à data de 08/12/1964, os materiais de construção que para ali foram levados, em que participei, comprovam que as obras do novo quartel já se tinham iniciado. (Cheguei a Mecula de noite (lembro-me que dormimos num barracão sobre esteiras) e parti de madrugada, depois de um pequeno almoço ligeiro no refeitório) não deu para eu ver, claramente, a situação actual.(fim de citação)



José Rocha ex-sapador da CCS do BART 639 com sede em Marrupa, diz-nos o seguinte:
Fui Sapador, da CCS do BART 639 que esteve em Marrupa entre Agosto de 1964 até Outubro de 1966.
Passei alguns meses em Lugenda e depois estive dois a três meses em Mecula.
Em Lugenda, quando cheguei, estava lá um segundo Sargento e um 1º cabo, ambos da arma de Engenharia. Havia uma barraca de palha onde dormia-mos e comia-mos. Havia também um rádio para comunicar com o exterior num posto de telefonista. Era esse sargento que todos os dias comunicava com Marrupa e com outras companhias.
Quanto ao nosso trabalho, era fazer guardas e reforços ao acampamento. Durante o dia quando era preciso, juntamente com esse 1º cabo de engenharia faziamos travessias quando elas eram precisas com os batelões de Lugenda - Mecula ou vice versa.
Depois mais tarde, fui para Mecula tomar conta de um grupo de moçambicanos onde me pediram para com eles fazer uma grande palhota que tinha sido pedida pelo Admistrador de Mecula ao Capitão Faia Correia da Comp. 636 que já estava lá.
Essa palhota era para arrecadação da Administração que ficava mesmo no sopé da Serra do lado direito da picada.
A nossa companhia trazia-me o almoço e o jantar. O sargento de dia vinha-me lá buscar no jipe de serviço.(fim de citação)

Irlando Tavares, ex-furriel desenhador da Comp. Engenharia 521, disse o seguinte:
Os quartéis de Mecula e Marrupa eram da responsabilidade do Batalhão de Eng. de Nampula, cujo responsável em Mecula era o capitão de engenharia - Carreira, no entanto para o quartel de Marrupa a supervisão era do nosso capitão Barroco (actualmente general na reserva).(fim de citação)

Uma foto enviada por Irlando Tavares, na praia do Lugenda, ao lado de elementos da CART 636.
DATAS e FACTOS HISTÓRICOS:
O Bart 639 mudou-se de Nova Freixo para Marrupa em Agosto de 1964.
A Cart 636 saiu de Malema e chegou a Marrupa em 9 de Agosto de 1964.
A Cart 636 colocou tropas nos destacamentos de Mecula, Gomba e Chamba.
Em 4 de Novembro de 1964 começaram a ser utilizadas pelo BART 639 as casernas do aquartelamento novo de Marrupa.
A partir de 1964 as travessias do Lugenda, para além do batelão do “Almirante Carlindo” ... passaram também a fazer-se nos barcos de borracha da Engenharia militar.
Em 8 de Dezembro de 1964 chegaram os materiais de construção ao estaleiro de obras do novo quartel de Mecula.
Em Junho de 1965 a CART 636 instalou a sua sede em Mecula.
Um sapador da CCS do BART 639 participou na mudança de instalações da Administração de Mecula para o sopé da serra.
Em finais de 1965 ficaram prontas as instalações do QUARTEL novo de Mecula.
A capela de Santa Bárbara foi inaugurada em 1966.


Está assim desvendado o “mistério”, da data de construção, do  novo aquartelamento  de Mecula onde todos nós Visitantes da Serra vivemos parte das nossas vidas.
Não deixa de ser interessante, que este aquartelamento tenha tido como primeiros inquilinos uma companhia de artilharia (CART 636) e cerca de dez anos depois foram (???) também as tropas de um Batalhão de Artilharia - (BART 3887) - os últimos inquilinos a quem coube a missão de fechar as portas da guerra.


Novos factos: Ler o post - As ÚLTIMAS SENTINELAS

Um texto de:
Ernesto Penedones Fernandes
Ex- furriel miliciano sapador do BCaç. 2914

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Aldeamento antigo de Mecula


Não devia haver própriamente um aldeamento em Mecula. O povoamento do território moçambicano não contemplava os aldeamentos tal como nós os conhecemos. As populações construíam as suas habitações junto das machambas, quando muito os vizinhos eram pessoas da mesma família.

Os Aldeamentos são uma "invenção" dos militares. Foram construídos na tentativa de garantir o controlo e a segurança as populações durante a "guerra colonial".
Os denominados movimentos de libertação aproveitaram-se da indignação das populações  locais e batizaram os novos aldeamentos de "campos de concentração".
Óbviamente, as pessoas estavam habituadas a viver em plena liberdade sentiam-se agora limitadas nos seus movimentos e liberdades, vai daí o constrangimento que o aldeamento para elas representava. Não foi fácil a sua implementação.
O Aldeamento é uma forma de organização social que cria novos valores culturais e reforça o sentimento comunitário de viver em grupo mais alargado (bairro, aldeia, cidade).
O ordenamento do território em Aldeamentos, permite ao Estado fornecer os serviços  básicos para a satisfação das necessidades primárias tais como: o fornecimento de água potável, as redes de esgotos, a distribuição de energia (electricidade) e das comunicações (telefone),  prestação  de cuidados de saúde e educação (escola).
A sociedade civil também aproveita o aldeamento para instalar as lojas comerciais (cantinas) e as oficinas artesanais de prestação de serviços e os mercados feira.

O único inconveniente é apenas a limitação do espaço urbano que cada um pode ter para construir a sua habitação. Um problema que não tinha quando construía a sua habitação (palhota) e as  instalações para os animais domésticos no meio da machamba.

Por mais estranho que possa parecer, são os mesmos dirigentes políticos que outrora condenavam os Aldeamentos quem tem  estado a promover a sua construção !
Numa sociedade moderna da qual se espera que satisfaça as necessidades das pessoas, os aldeamentos são um bem necessário. 
Ainda bem que as autoridades moçambicanas, assimilaram depressa o conceito !

Um texto de:
Ernesto P. Fernandes
Ex-furriel miliciano sapador do BCaç. 2914 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Aqui nasceu Mecula

Esta foto é mais uma verdadeira RELÍQUIA para ilustrar a história de Mecula. Aqui nasceu Mecula,  foi aqui que os Heróis da Serra Mecula lutaram contra o invasor alemão.
Foi aqui o primeiro AQUARTELAMENTO das nossas tropas desde o ano de 1961 - (Pioneiros de Mecula) - até à chegada da CART 636 em Junho de 1965.
Foi aqui onde esteve Henrique Galvão no ano de 1948 !
Este local, hoje em ruínas, é o verdadeiro Centro Histórico de Mecula !

A foto é uma contribuição de:
Fernando Pereira, ex-1º. cabo radiotelefonista da CCS do Bart 639

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Construções novas em Mecula

Uma vivenda na avenida principal de Mecula - (foto de 2009)


 
Uma Mesquita moderna, algures em Mecula - (??) - (foto recolhida na internet).

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Feiticeiro de Gomba

 Tába-Tába com os militares da CCaç. 1653 e alguns elementos da população de Gomba.


Corria o ano de 1967... ( ler a história completa no Arquivo da Serra).

Em Gomba, zona em que me encontrava na altura, quando começaram a desmatar o terreno escolhido para a construção de um desses aldeamentos, surgiu um obstáculo que não estava previsto: Um enorme imbondeiro, (seis homens de mãos dadas, não o conseguiam abraçar; era necessário entrar um sétimo), “recusava-se” a cair. O chefe daquela zona (Régulo???) conhecido entre os militares por “Grande Chefe Tába-Tába”, andava há já uns dias com uma equipe de 20 ou 25 homens a tentar derrubar o “monstro”, sem o conseguir.
O comandante da minha companhia, perguntou-me se eu conseguia fazê-lo, utilizando explosivos. Respondi de imediato que sim, só que não teria a certeza da quantidade necessária para o fazer.
Para que a operação resultasse, pedi que me abrissem 4 buracos a toda a volta da árvore, onde coubesse um punho. Em cada um desses buracos, meti o explosivo, ( Cargas atacadas ), ligados entre si por cordão detonante. Pronto que estava para executar a parte final do meu trabalho, pedi que todo o pessoal se abrigasse e, como mandam as regras, escolhi o sítio onde me iria abrigar após dar início à combustão do rastilho. Para lá levei o Tába-Tába que estava admirado com aquele aparato. Depois de toda a gente abrigada, dirigi-me para o imbondeiro, a fumar pacatamente e, em chegando lá, com o cigarro, inicio o rastilho.
É indescritível a visão do que sucedeu naqueles segundos. Mesmo eu fiquei admirado com o resultado. A meu lado, o Grande Chefe Tába -Tába tinha os olhos que parecia querer saltarem das órbitas; não queria acreditar no que estava a ver.
Fui um privilegiado pois, a partir dessa altura, tinham-me um respeito (medo) ou (?!?!?!) que eu podia, mesmo que fosse de noite, andar desarmado que ninguém me tocava com um dedo que fosse.
Constava por toda a zona que o Furriel Pires tinha "XICUEMBO” que significa “feitiço”, segundo me disseram em dialecto Changana.

Um conto de:
Domingos Azenha Pires
Ex-furriel miliciano da CCaç. 1653 do BCaç. 1906

domingo, 7 de fevereiro de 2010

As travessias do Lugenda

 
O transporte do "petróleo" no "catamaran" do Carlindo.



Os Pioneiros de Mecula (pelotão da CCaç. de Marrupa ).



O "almirante" do Lugenda, era o cantineiro Carlindo.



 
Os militares da CART 1595 que estiveram em Mecula.


Segundo o que consta na III parte, publicada no Livro do Batalhão de Caçadores 1906, ficamos a saber o seguinte:

No dia 8 de Março de 1967 começaram as CCAÇ 1653 e CCAÇ 1655 a sua viagem para Mecula, mas em virtude da falta de ponte no Rio Lugenda a travessia foi morosamente feita em batelão e assim, a CCAÇ 1655, com toda a sua impedimenta, só conseguiu chegar àquela localidade passados oito dias, depois de acampar nas margens do grande rio onde os pirilampos, as aves que assobiam e os animais selvagens causaram alguns sustos e fizeram sentir aos «novos» que estavam no «mato» - (fim de citação).

Para saber (+), sobre o BCaç. 1906, pode ler no Arquivo da Serra.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O livro do Batalhão de Caçadores 1906

O livro do Batalhão era uma publicação oficial, da antiga Região Militar de Moçambique (durante a guerra colonial), a que cada unidade militar tinha direito para relatar toda a sua actividade operacional durante a comissão de serviço.
Nem todas as unidades militares se deram ao trabalho de escrever a sua própria história.
Vai daí a razão da surpresa, de alguns de nós, nunca imaginamos um dia poder vir a ler tão requintados documentos históricos ! 
A linguagem utilizada está de acordo com os padrões oficiais e contexto histórico da época, (já passaram quarenta anos), estamos a apresentar-vos um documento histórico, e a História nunca se apaga, respeita-se !
No post de hoje vamos publicar a mensagem do Comandante do BCaç. 1906, que diz o seguinte:


Missão cumprida
Foi em 13 de Janeiro de 1967 que, pela primeira vez, formou completo o Batalhão de Caçadores n.° 1906, na parada do Glorioso B. I. n." 15, em TOMAR, a fim de lhe ser entregue o Guião da Unidade. Nessa altura, ao fazer uma breve resenha da História do Regimento, cuja bandeira é a mais condecorada do Exército Português, chamei-vos a atenção para a sua divisa: NON NOBIS..., que pode ser traduzida - NÃO POR NÓS, MAS PARA UMA MAIOR GLORIA DE PORTUGAL-e exaltei-vos para que vos mantivésseis sempre «FIRMES E CONSTANTES» e honrásseis as nobres tradições do Glorioso Exército a que todos temos a honra de pertencer.
Passados dois anos depois que deixastes a Capital do nosso querido e lindo PAIS, e fazendo um exame de consciência podemos concluir, sem receio de sermos desmentidos, que os Homens do Batalhão de Caçadores n.° 1906 souberam bem cumprir a sua missão, honraram a divisa do seu guião e glorificaram o Exército e PORTUGAL.
Sempre «FIRMES E CONSTANTES» quer nas terras do NIASSA, quer a Norte do Rio Zambeze, vós perseguistes com valor e audácia os bandoleiros, embora para isso alguns tivessem de verter o seu sangue.
Muito suor e algumas lágrimas foram derramadas na abertura ou reparação de itinerários e obras de arte ou construindo edifícios, na edificação de Aldeamentos e abertura de poços e em muitos outros serviços que decisivamente contribuíram para o bem estar das tropas e o progresso social das Populações.
Muito sofrestes nas picadas e matagais da Grandiosa, rica, bela e bem Portuguesa Província de Moçambique e que agora melhor ficastes a conhecer e a amar. Muitos episódios bem gravados nos vossos corações serão recordados peia vida fora e será sempre com orgulho e altivez que falareis do Ultramar, que com o vosso esforço e o vosso sacrifício ajudastes a manter para que os portugueses de todas as raças, cor e religião, e falando a mesma língua, possam viver em paz e harmonia. Agora sabeis por experiência própria quão grande, rico e belo é PORTUGAL e, altiva e orgulhosamente, podeis dizer aos comodistas, egoístas e derrotistas e àqueles que maldosamente vos insinuem o abandono do Ultramar que eles não são dignos de viver sob a Bandeira das Quinas.
Nesta hora em que cada um regressa aos seus lares, quer continuando a envergar a farda, quer dedicando-se a profissões civis, desejo afirmar-vos que foi uma grande honra para mim ter-vos comandado e peco-vos que, pela vida fora, não esqueçais as lições de boa camaradagem e são convívio tido nos 24 meses passados nesta Província, que chama por todos os bons Portugueses.
(Janeiro de 1969)
O COMANDANTE DO BCaç. 1906
JOSÉ GUARDADO MOREIRA
Tenente Coronel


Agradecemos ao nosso amigo, ex-furriel miliciano atirador, Álvaro Ferreira da CCaç. 1653 do BCaç. 1906, a sua contribuição para o blogue ao emprestar-nos o seu livro do Batalhão.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O estaleiro da Ponte LUGENDA - Capítulo I

Irlando Tavares, ex-furriel miliciano,  desenhador  da Companhia de Engenharia 521, com sede em Vila Cabral (Lichinga), participou na montagem do estaleiro das obras da ponte e na  criação do Destacamento do Lugenda; mais tarde designado por destacamento de Mussoma. A propósito desta obra e da actividade da Companhia de Engenharia no Niassa, disse o seguinte: 
Partimos de Lisboa em 23 de Novembro de 1963 e fomos para Vila Cabral onde foi sempre a sede da Companhia. Os primeiros destacamentos foram o LUGENDA, Valadim, Luatize, Messengueese e outros. Claro que a obra mais importante era a Ponte do Lugenda, pela sua dimensão e dificuldade de execução. 
No que respeita à ponte do Lugenda, levamos algum tempo a iniciar as obras, foi preciso transportar todo o equipamento pesado e fazer a preparação técnica relacionada com a sua localização.
Depois a montagem do estaleiro, a exploração da pedreira que forneceu a matéria prima.
Além dos militares que trabalharam nas obras, recrutamos cerca de 100 moçambicanos dos aldeamentos vizinhos para os trabalhos das fundações. Pela nossa parte fizemos 11 pilares da ponte ! A companhia de engenharia que nos rendeu continuou os trabalhos até à chegada de uma empresa civil que colocou o tabuleiro (tarefa demasiado complexa para os escassos meios da Engenharia Militar).

 
O primeiro edifício construído no Lugenda pela engenharia militar

Irlando da Costa Tavares, ex-furriel miliciano,  desenhador  da Companhia de Engenharia 521, disse o seguinte:
"Estive no Lugenda, em 1965, mas cheguei a Vila Cabral em 1963. O ano de 1964 foi passado na sala de projecto em Vila Cabral. No entanto, foram enviados vários destacamentos para o mato onde se instalaram em acampamentos, entre eles o do Lugenda. Havia muito trabalho a fazer antes de dar inicio à obra da ponte. Procurar a pedreira, construir o acampamento (quartel), tratar da segurança. Nesta altura não tivemos nenhuma companhia de infantaria a dar-nos protecção.
Eu próprio em 1965 trabalhei nas obras da ponte e ainda participei na abertura das trincheiras de defesa do Destacamento.
Fomos os primeiros a chegar, o Destacamento do Lugenda foi "fundado" pela Companhia de Engenharia 521."

Esta belíssima construção, muito "ecológica", foi obra dos engenheiros da ponte.


  
 Quando a sede pedia uma "bazuca" Laurentina !










Quando um barbeiro, vinha ao Lugenda, era dia de festa !


Os engenheiros da ponte a caminho do Destacamento de Lugenda




Sendo a região muito rica em caça grossa,  (não é por acaso, que começa  ali a Reserva do Niassa), os engenheiros da ponte tinham um "talho" bem fornecido. Nem era preciso ir à loja do Carlindo (o tal "lendário" Cantineiro estava naquela data estabelecido no Lugenda).



Esta foto foi tirada no ano de 1971, no tempo da Companhia Caçadores 2707, nessa data o destacamento era apelidado de Mussoma; finalmente estiveram lá os militares da CART.3558 - (BArt.3887) até ao ano de 1974.  A história deste Destacamento está directamente ligada à construção e à defesa da ponte do Lugenda. 


Está assim descrita a história deste Destacamento desde a sua criação até ao fechar das portas da guerra !

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A história do monumento de Mecula


Azenha Pires, ex-furriel miliciano da CCaç. 1653 do Batalhão de Caçadores 1906, disse:

Monumento - É mais que certo que foi a CART.1595 (a Companhia que fomos render) a construí-lo.
Quando chegámos a Mecula em 8 de Março de 1967, já estava pronto ou em fase de acabamento, pois foi inaugurado com pompa e circunstância no dia 28 de Maio desse mesmo ano, pelo então Tenente Coronel Viriato Melo Egídio que desempenhava o cargo de Governador do Distrito do Niassa.



   
Azenha Pires, com a farda nº1, no dia da festa da inauguração do Monumento de Mecula.



No tempo do BCaç. 2836 foi restaurado.

Em Julho de 1969, o senhor Bispo de Vila Cabral reza missa no Monumento de Mecula.



Em 1971, é ponto de partida para a "expedição" ao alto da Serra Mecula.

No ano de 2003 já não tinha os símbolos cristãos (cruzes).


 No ano de 2009, estava pintado com as cores da bandeira de Moçambique.
 
Falta dizer quem foi o autor do projecto, quantos sacos de cimento gastaram, quem foram os trolhas... deixo isso ao cuidado dos comentadores deste blogue !
Está aberta a discussão !

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pontes em Madeira e Ferro

 
Esta foto foi recolhida na internet, é referente a uma ponte construída para os lados de  (???) no Norte de Moçambique (??), certamente por uma Companhia de Engenharia Militar.
Esta ponte já obedecia a cálculos de resistência ! Podem ver-se as quatro vigas de perfis metálicos em cada rodado, e um tabuleiro em tábuas de madeira serrada. Quer dizer que já podia suportar grandes cargas sem problema.

 
Cada tábua era fixada às vigas por intermédio de umas abraçadeiras de aço. Esta ponte pré-fabricada podia ser construída no quartel (estaleiro) e montada em obra, por isso dizemos que era uma ponte "hig_tech", feita por quem sabia do ofício !

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Obras de arte em madeira

 
No ano 2009 esta ponte estava transitável numa estrada de acesso a Marrupa !
Uma ponte de madeira, autêntica obra de arte de construção artesanal de pontes,  utilizando os recursos naturais disponíveis no local (madeira e pedra).
Pilares e encontros em gaiola (com pedras dentro) feita com árvores perfeitamente encaixadas umas nas outras e com as estacas verticais  fixadoras das vigas do tabuleiro forrado com tábuas.
Não sabemos se esta obra é recente, como é feita de madeira, não deve ter 40 anos !

Além das vigas mestras, já tem travessas em barrotes de madeira serrados e o respectivo tabuleiro em tábuas fixas com pregos !
Já se pode classificar como uma ponte "high tech" !

Estas pontes tem os dias contados, porque vai ser construída  uma estrada moderna de Marrupa a Montepuez, e óbviamente vão construir aqui pontes de betão armado. 





Outra obra de arte, uma ponte de madeira, com um tapete "ecológico" feito de canas de bambu.









 
(foto recolhida na internet)
Outro tipo de construção de pontes em madeira, numa picada de Montepuez em Cabo Delgado.



 A mesma TECNOLOGIA de construção já era utilizada  pelos Sapadores de Infantaria dos Batalhões  que passaram por Mecula.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As tecnologias construtivas dos antigos Aquartelamentos


Na foto, do ano de 2009, um dos pavilhões do antigo aquartelamento de Mecula, numa fase de recuperação das caixilharias e com uma pintura nova. O brasão na parede é uma marca que o BArt. 3887 deixou em Mecula.

Ao olharmos para estes pavilhões,  podemos reflectir sobre a qualidade de construção destes aquartelamentos e das tecnologias já então aplicadas naquele tempo.
Muitas das vezes em África, também se gastam rios de dinheiro em obras de fachada e cuja utilidade não justifica esses investimentos.
A este propósito vamos teorizar sobre este conceito de engenharia destas construções e criar aqui no blogue porventura alguma polémica; pouco importa , desde que sirva para dar ideias e tentar resolver os problemas das pessoas.

A imagem mostra perfeitamente os pormenores construtivos e permite-nos tecer as seguintes considerações:
Os alicerces constavam de uma plataforma de betão, elevada do chão o suficiente para não haver perigo de inundações na época das chuvas.
Os pilares eram metálicos, de perfis normalizados, onde assentavam as asnas metálicas que recebiam as madres e por sua vez as chapas de cobertura (já com isolamento).
O telhado era maior que o edifício, havia um alpendre coberto, que fazia sombra sobre as paredes para não haver acumulação de calor nos blocos de cimento; ou seja para reduzir ao mínimo a carga térmica do edifício.
Depois havia um tecto falso em todas as divisões.
Como o tecto era ventilado, como se recordam os camaradas, os edifícios eram frescos. O calor que se sentia era derivado do ar quente que entrava pelas portas e não pela radiação e condução do edifício.
As paredes exteriores ligavam os pilares metálicos e as paredes interiores eram as divisórias.
Tudo bem pensado, como se pretendia !
Atenção não confundir: estes edifícios de Mecula são o modelo oposto aquelas "fritadeiras metálicas"do  Candulo e do Chiulézi !
Estas construções de Mecula duram há quarenta anos !
E estão ali em pé para durar muito mais tempo !

Muitos dirão: Que tem isto de especial, para estarmos aqui no blogue a falar de uma construção tão simples...de uma coisa tão óbvia .
Exactamente: por ser simples, barata, fácil de realizar, e de montagem rápida,  é que é muito importante falar dela.
Das coisas simples, dos "ovos de Colombo" e de tudo que pode resolver os problemas das pessoas é de que nos devemos ocupar.
Na data em que escrevemos este post, passaram poucos dias depois do sismo no Haiti. 
Este tipo de construção aligeirado não fazia muitos mortos naquele sismo. É certo que,  aquele telhado ventilado, não seria uma boa solução para os tufões daquela zona do globo, isso levaria a outra conversa.
Agora imaginem estas construções realizadas por uma empresa especializada, com moldes para as portas e janelas e as caixilharias todas normalizadas (modelo standard), e que preços baixos de construção se conseguiam.
Quem tem pouco dinheiro, deve apreender a viver com aquilo que tem ao seu dispor.
Andam em África centenas de ONGs, (com muita boa vontade, diga-se de  verdade...), mas cada um a remar para seu lado... quase em concorrência.... quando a trabalhar de forma integrada e em rede, com a mesma quantidade de dinheiro o que se podia construir !
O meu apelo vai para os ENGENHEIROS sem FRONTEIRAS, que andam por África, para que aproveitem as ideias e o conhecimento e a experiência dos militares que por lá andaram !
Não vale muito a pena tentar inventar de novo a roda; vale a pena sim explorar as ideias antigas,  aplicar agora os novos materiais do século XXI e fazer muita obra com pouco dinheiro !
Pela nossa parte, estamos cá para ajudar !

Os habitantes de Mecula  foram inteligentes, aproveitaram o nosso quartel e deram-lhe uma utilidade para a comunidade local. Bem hajam por isso !

Um texto de:
Ernesto P. Fernandes
Ex-furriel miliciano Sapador do BCaç. 2914