segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As tecnologias construtivas dos antigos Aquartelamentos


Na foto, do ano de 2009, um dos pavilhões do antigo aquartelamento de Mecula, numa fase de recuperação das caixilharias e com uma pintura nova. O brasão na parede é uma marca que o BArt. 3887 deixou em Mecula.

Ao olharmos para estes pavilhões,  podemos reflectir sobre a qualidade de construção destes aquartelamentos e das tecnologias já então aplicadas naquele tempo.
Muitas das vezes em África, também se gastam rios de dinheiro em obras de fachada e cuja utilidade não justifica esses investimentos.
A este propósito vamos teorizar sobre este conceito de engenharia destas construções e criar aqui no blogue porventura alguma polémica; pouco importa , desde que sirva para dar ideias e tentar resolver os problemas das pessoas.

A imagem mostra perfeitamente os pormenores construtivos e permite-nos tecer as seguintes considerações:
Os alicerces constavam de uma plataforma de betão, elevada do chão o suficiente para não haver perigo de inundações na época das chuvas.
Os pilares eram metálicos, de perfis normalizados, onde assentavam as asnas metálicas que recebiam as madres e por sua vez as chapas de cobertura (já com isolamento).
O telhado era maior que o edifício, havia um alpendre coberto, que fazia sombra sobre as paredes para não haver acumulação de calor nos blocos de cimento; ou seja para reduzir ao mínimo a carga térmica do edifício.
Depois havia um tecto falso em todas as divisões.
Como o tecto era ventilado, como se recordam os camaradas, os edifícios eram frescos. O calor que se sentia era derivado do ar quente que entrava pelas portas e não pela radiação e condução do edifício.
As paredes exteriores ligavam os pilares metálicos e as paredes interiores eram as divisórias.
Tudo bem pensado, como se pretendia !
Atenção não confundir: estes edifícios de Mecula são o modelo oposto aquelas "fritadeiras metálicas"do  Candulo e do Chiulézi !
Estas construções de Mecula duram há quarenta anos !
E estão ali em pé para durar muito mais tempo !

Muitos dirão: Que tem isto de especial, para estarmos aqui no blogue a falar de uma construção tão simples...de uma coisa tão óbvia .
Exactamente: por ser simples, barata, fácil de realizar, e de montagem rápida,  é que é muito importante falar dela.
Das coisas simples, dos "ovos de Colombo" e de tudo que pode resolver os problemas das pessoas é de que nos devemos ocupar.
Na data em que escrevemos este post, passaram poucos dias depois do sismo no Haiti. 
Este tipo de construção aligeirado não fazia muitos mortos naquele sismo. É certo que,  aquele telhado ventilado, não seria uma boa solução para os tufões daquela zona do globo, isso levaria a outra conversa.
Agora imaginem estas construções realizadas por uma empresa especializada, com moldes para as portas e janelas e as caixilharias todas normalizadas (modelo standard), e que preços baixos de construção se conseguiam.
Quem tem pouco dinheiro, deve apreender a viver com aquilo que tem ao seu dispor.
Andam em África centenas de ONGs, (com muita boa vontade, diga-se de  verdade...), mas cada um a remar para seu lado... quase em concorrência.... quando a trabalhar de forma integrada e em rede, com a mesma quantidade de dinheiro o que se podia construir !
O meu apelo vai para os ENGENHEIROS sem FRONTEIRAS, que andam por África, para que aproveitem as ideias e o conhecimento e a experiência dos militares que por lá andaram !
Não vale muito a pena tentar inventar de novo a roda; vale a pena sim explorar as ideias antigas,  aplicar agora os novos materiais do século XXI e fazer muita obra com pouco dinheiro !
Pela nossa parte, estamos cá para ajudar !

Os habitantes de Mecula  foram inteligentes, aproveitaram o nosso quartel e deram-lhe uma utilidade para a comunidade local. Bem hajam por isso !

Um texto de:
Ernesto P. Fernandes
Ex-furriel miliciano Sapador do BCaç. 2914

1 comentário:

  1. A CART 3556 estava instalada num verdadeiro conjunto de fritadeiras. No entanto, como a necessidade aguçava o engenho, foi possível copiar aquilo que de bom se fazia noutros lados o que permitiu, não eliminar mas apenas atenuar, os efeitos do rigor do clima. Sobre os telhados foi colocado capim, o que diminuía tanto a acção do sol como o ruído das chuvas diluvianos que por aquela região aconteciam.
    Quanto aos métodos construtivos, utilizamos no edifício que construímos de raiz aquilo que era comum, com a particularidade de fabricarmos inicialmente blocos de argamassa de cimento, utilizados nas paredes exteriores, enquanto que para as divisórias fabricamos adobes de argila, material que nunca acabará no Chiulezi e que tinha a vantagem de não nos obrigar a “importar” cimento. Estes adobes eram fabricados de uma forma bastante artesanal: Um buraco no chão, um bidão de água despejado no buraco, dois mainatos marcavam passo no interior do buraco com água o tempo necessário para produzir uma pasta de argila que sendo enformada e deixada inicialmente a secar ao sol durante três dias, eram colocados uns sobre os outros na forma de paredes elevadas até dois metro de altura, formando um “U”, coberto com chapas de bidão espalmadas recobertos com argila, criando-se assim uma câmara de queima de muita lenha onde era efectuada a cozedura dos adobes que na base eram as suas paredes. A cobertura, portas e janelas do edifício foram fornecidas pela engenharia, mas comparadas com as de Mecula, concluo que aqueles engenheiros se esqueceram de fornecer as peças metálicas. Mais uma vez improvisamos com o recurso a uns paus apanhados no terreno do vizinho, sabiamente aparelhados com recurso a serrotes de arco ou enchó.

    Cumprimentos
    Ferreira Pinto (BART 3887)

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