domingo, 31 de janeiro de 2010

O sino da Escola de Mecula

Naquele tempo funcionou aqui o Bar da Sala do Soldado, onde se podiam beber umas Laurentinas .
Refiro-me aqueles soldados a quem os pais mandavam uns escudos... porque a grande maioria, não tinha dinheiro, "lerpava" de sede !

 As latas de cerveja da época (1970), uma novidade de embalagem moderna, leve e muito prática para transportar.
As latas, depois de vazias, ainda tinham muita utilidade: Uma vez amarradas às vedações de arame farpado, funcionavam como chocalhos avisando os sentinelas no caso de passagem de algum intruso através do arame farpado !
Também eram utilizadas como "candeias macuas" com  desperdícios e gasóleo para sinalizar as pistas de aviação de noite durante as evacuações zero horas !
Havia quem lhes cortasse a tampa e fizesse delas um copo !
O maior defeito, talvez o único, era que também serviam para enterrar na picada e enganar os homens dos detectores electrónicos de minas !



A antiga enfermaria do aquartelamento de Mecula, onde ainda se pode ver a cruz vermelha por cima da porta.
Talvez seja o edifício menos conservado (já passaram quarenta anos), está a precisar de umas latas de tinta e de uma caixilharia nova.
Precisamos de  alguns "voluntários e mecenas" que queiram ir a Mecula... para fazermos o restauro deste edifício !
A roda da Berliet é o sino (campaínha) para indicar às crianças da escola a hora do recreio !

Fotos obtidas no ano de 2009 pelo enviado especial do nosso blogue.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Centros de Saúde - Distrito de Mecula

O novo Centro de Saúde de Gomba (foto recolhida na internet).

Para os Visitantes da Serra Mecula, (que estiveram em Gomba) e que hoje são cibernautas e gostam de navegar na internet, deixamos aqui as coordenadas dos centros de Saúde do distrito de Mecula .
Podem ver os sítios conhecidos, onde agora há aldeamentos - Google Earth em coordenadas decimais:
Gomba: - 11,3392   38,3067
Matondovela (Candulo) : -12,0736   37,0164
Mecula : - 12,1164  37,6658
Lugenda (Mussoma) : -12,4586  37,6614
Mbamba (perto de Nanguara) : -12,1964  38,015
O que as tecnologias modernas hoje permitem !  Com GPS agora ninguém se perdia no mato !
Bom proveito, boa navegação !

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Niassa Carnivore Project - (NCP)



A Reserva do Niassa está ligada a Selous Game Reserve

Quem quiser saber mais sobre estes projectos, consultar:
http://www.predatorconservation.com/niassa.htm
(click nas imagens para ampliar)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Subindo o rio Lugenda

Belas imagens do rio Lugenda - (só falta ver os crocodilos).


Peças de caça grossa "escondidas" na savana  neste magnífico cenário das margens do rio Lugenda - (Junho 2009).


Os "bichos" da Reserva do Niassa - (foto retirada da internet - Niassa Carnivore Project ).

 (click nas imagens para ampliar)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Os caminhos do futuro de Mecula


Mapa Rodoviário de Mecula
(click nos mapas para ampliar)





Mapa rodoviário do Niassa



Mapa Rodoviário de Montepuez

Com a futura estrada de Lichinga a Montepuez todo o Niassa tem ligação ao mar através de Pemba (capital de Cabo Delgado).
É um dos projectos mais ambiciosos do Norte de Moçambique, como que a "restaurar" o antigo Niassa que englobava as duas actuais províncias (Niassa e Cabo Delgado).

Quando esta estrada estiver pronta, a Reserva do Niassa pode ser visitada com mais facilidade e vai permitir o grande desenvolvimento turístico de todo o Niassa.
Falta apenas o troço de Marrupa a Montepuez, estando previsto estar pronto em 2014.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sede da Reserva do Niassa

 
Aqui é o "quartel general" da Reserva do Niassa. O local chama-se  Mbatamila -  (foto do enviado esp. blogue Serra Mecula).

Como chegar a Mbatamila?
Este acampamento dos guardas e dos técnicos da Reserva, fica a pouco mais de uma dúzia de quilómetros depois do cruzamento das picadas Mecula para o antigo Candulo.
Segue-se pela picada do antigo Candulo - (Matondovela) - e depois vira-se à esquerda.
Quem por aqui andou... deve ter alguma ideia de como é este local...
As coordenadas para ver no Google Earth: S 12º 11´01´´ E 37º 33´03´´




 

Foto recolhida na internet (panorâmico - by suizane rafael )

domingo, 17 de janeiro de 2010

Caçadas em África - Cap. III


Acabados de chegar a Mecula, com poucos dias de mato, os sapadores foram encarregados de reconstruir um pontão a meia distância entre o aldeamento e o cruzamento do Candulo; seriam cerca de cinco quilómetros do quartel até aquela "ponte " que passaria a ser baptizada de "Ponte dos Leões" !

A história que vos vou contar é de arrepiar... quase nem dá para acreditar... principalmente por quem já fez safaris ou quem teve simplesmente o privilégio de ler os escritos de José Pardal (Cambaco), Hugo Seia, Manuel Lencastre, Roque Pinho e de tantos outros caçadores que tem escrito sobre caça grossa em África e sobre as armas e os calibres mais recomendados.

Só a "santa" ignorância e a inexperiência e muita irresponsabilidade à mistura da tropa checa acabada de chegar à selva africana é que podem justificar o que aconteceu em Mecula.
Na nossa preparação militar nunca nos foi dito com bastante veemência que atirar sobre caça grossa representava um grande perigo; tanto mais agora andar aos tiros nos CINCO GRANDES - (elefante, rinoceronte, búfalo, leão e leopardo).
Para nós militares a G3 resolvia todas as situações, desde atirar com bala a galinhas de mato... até abrir fogo sobre leões. Contavam-se muitas histórias de caça e da sua abundância que tanto jeito dava para a nossa alimentação !

A meio da viagem, depararam com um leão deitado no meio da picada. Pararam o unimog para não atropelar o bicho e ficaram a aguardar que ele se levantasse.
Acontece que seguia na viatura um moçambicano do aldeamento, a quem tinham dado boleia, este ao ver o leão a três metros de distância decide ferrar-lhe um tiro de caçadeira monotiro calibre doze e com chumbo escumilha ( chumbo para matar pardais) !
O bicho levantou-se assustado com o estrondo, sacudiu o rabo como que a varrer o chumbo... e em passo de corrida marchou para o mato. A leoa que estava escondida no capim apareceu e correu atrás do leão.
Por mais que o furriel gritasse a ordenar o cessar fogo, não conseguiu evitar que dois ou três militares disparassem sobre os leões.
O mais caricato da cena de caça é ver um soldado de machado em punho correndo atrás dos leões à boa maneira do monteiro que faz o "remate" nas montarias ao javali.
Quem estava melhor colocado, para atirar ao leão, era o furriel que seguia na cabine junto do condutor e tinha a cabeça do leão a poucos metros, podendo até apoiar a arma no párabrisas e desferrar um tiro nos olhos do rei da selva.
Segundo dizem teve "cagaço" de falhar ou a calma suficiente para não atirar. Quem precipitou o foguetório foi o moçambicano que trazia o dito canhangulo !

Afugentados os leões, retomaram a marcha e um quilómetro adiante chegavam ao local de trabalho.
Porra, diz o Júlio tractorista, não é todos os dias que se pode ver um casal de leões na picada de Mecula ! Já viram as fotos que podemos fazer no quartel para o pessoal mandar para as nossas namoradas?
Ó meu furriel, com tanta euforia de ver os leões, perdemos o machado.
Temos que voltar atrás ir procurar o machado e dar mais uma vista de olhos pois o bicho está morto de certeza com tanto chumbo que levou ! Ninguém mais os travou, lá fora eles no tractor Massey Fergunson à procura dos leões.
Quando andavam à procura do machado e aparece o coronel Dinis e apanha os dois caçadores de leões, fica "passado" com tanta irresponsabilidade da tropa checa.
O Cmdt Dinis chega à ponte, desata aos gritos e chama o furriel e promete-lhe oito dias de prisão (bem merecidos) pela irresponsabilidade de ter deixado andar o pessoal sózinho a caçar leões; para além do perigo de aparecer o IN e apanhá-los à mão... o leão ferido podia atacar e matá-los.
Dois dias depois só foi perdoado porque o capitão Dias de Carvalho convenceu o Coronel da "inocência" destes rapazes checas e sua inexperiência por terem acabado de chegar.

Nada aconteceu de grave porque provávelmente ninguém acertou no leão.
Podia ter sido uma tragédia se o animal "CARREGA", podia ter havido ali naquela triste cena de caça os primeiros mortos do batalhão.
Checa era pior que turra!
Quem quiser saber quem foi o furriel, perguntem ao Júlio tractorista de Braga !

Um conto de:
Ernesto Penedones
Ex- Furriel Miliciano Sapador do BCaç. 2914

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Caçadas em África - Cap. II

Nascer do Sol em Mecula em 1970


Nascer do Sol em Mecula em 2009

Ainda alguém se lembra de que lado nasce o Sol em Mecula ?

Naquele tempo "nascia" (risos) do lado da pista de aviação !
Mecula fica no hemisfério sul, o sol "movimenta-se" no sentido contrário ao que estamos habituados na Europa. ( Quem gira é a Terra como sabemos, mas nós o que vemos é o Sol rodar em relação ao nosso cenário, neste caso a serra Mecula).
O facto de estarmos (naquela data) no hemisfério sul era um pormenor importante, cujo desconhecimento tramou a vida a dois caçadores aventureiros !


António Morais ex-alferes ranger da CCaç. 2707 publicou outro artigo numa conhecida revista de caça, a propósito da sua experiência sobre caça grossa e das dificuldades de orientação na selva africana, e escreveu o seguinte:
" Lembro-me que um mês depois de termos chegado, dois furriéis saíram sózinhos para caçar e isso valeu-lhes três dias sem encontrarem o caminho de regresso à base, tendo o meu pelotão encontrado os caçadores, bastante exaustos e sobretudo deprimidos, quase vinte quilómetros do local donde haviam partido.Foram inclusivé perseguidos por um leopardo. Qual não seria o susto e depois a alegria de serem encontrados.
Na selva africana é fácil as pessoas perderem-se, por isso o guia local ou o pisteiro nunca devem ser prescendidos.
Quantas vezes partíamos para uma operação e logo à saída víamos um kudo, uma ou várias gazelas ou impalas que caíam sob o fogo da G3, o que interessava de sobremaneira, porque na fronteira com a Tanzânia e em constante intervenção nas tropas especiais, todos estavam fartos de rações de combate.
Uma vez por outra abateram-se elefantes, não pela carne que era oferecida à população, mas pelas pontas, que conservo, ou pelas patas que não guardei." (fim de citação).


O gestor do blogue esteve lá naquele dia... não passava um mês... apenas tínhamos quinze dias de mato!
No dia 28 de Maio de 1970, logo de madrugada, partimos de Mecula para Nantuego fazendo escolta ao nosso Cmdt Coronel Comando Correia Dinis que ia comandar as operações de busca e salvamentos dos furriéis desaparecidos no mato.
Pouco depois de chegarmos a Nantuego, veio um helicóptero de Mueda buscar o Coronel Correia Dinis para uma operação de reconhecimento aéreo da floresta desde Nantuego até Gomba.
Como não tivessem descoberto sinais de vida dos desaparecidos foi de imediato reforçada a busca terrestre através de equipas de pisteiros locais e quase todos os militares da CCaç. 2707.
A escolta que tinha vindo da CCS ficou a guardar o quartel conjuntamente com meia dúzia de militares da própria companhia de Nantuego.
O sucesso desta operação ficou a dever-se à grande capacidade de decisão do Cmdt de Batalhão e do Cmdt de Companhia , dois operacionais excelentes, figuras públicas bastante conhecidas e também ao espírito de sacrifício do restante pessoal da Companhia.
Eu que estive lá e assisti à chegada dos nossos camaradas posso testemunhar o que vi e o que representou para mim ter vivido de perto aquela situação. Vi o Morais chorar de alegria, quando chegou ao quartel, vi os abraços do Figueiredo e do Pires a todo o pessoal. Se há momentos na vida que nunca se esquecem esse foi um deles !
Recordo ter ouvido o Figueiredo contar o seguinte pormenor:
- No segundo dia perguntou ao Pires de que lado da messe de Nantuego nascia o Sol.
Depois da resposta do Pires, ambos concluíram que estavam a caminhar em direcção a Gomba !
Voltaram para trás... e horas depois o alferes Morais e os seus pisteiros... encontravam os camaradas perdidos.
Foram 54 longas horas de angústia, de sofrimento, que só aqueles rapazes com formação Ranger da Escola de Lamego eram capazes de aguentar ! De igual modo, outros Rangers como o Morais foram capazes de os procurar até ao limite das suas forças !
Não havia GPS, telefone via satélite, telemóvel, Google Earth etc.
Nos tempos modernos há meios tecnológicos sofisticados de orientação. Mecula dentro em breve vai ter uma antena de telemóvel da operadora MCel ! Quem diria !
Naquele tempo a orientação fazia-se pelo Sol.
Foi o desconhecimento do facto de que estavamos no hemisfério sul que tramou os "checas" !
Aos meus amigos, António Figueiredo e Emídio Janela Pires do Sabugal, a quem dedico o post de hoje do nosso blogue, envio um grande abraço.
Foi com vocês que aprendi muitas coisas sobre África, desejo-Vos muitos anos de vida !

Caçadas em África - Cap. I


António Manuel Morais, advogado em Lisboa, escritor, benfiquista ferrenho, é um caçador de longa data.
No ano de 1999, depois de ter realizado um safari em África, publicou numa revista conceituada do mundo cinegético uma série de artigos sobre a suas experiências com caça grossa.
Nessa revista, escreveu o seguinte sobre a sua passagem por terras de Mecula:
" Usei espingardas de carregar pela boca, experimentei espingardas de um e de dois canos, construidas de forma artesanal, e por aí andei até chegar à altura de servir a Pátria no Norte de Moçambique, como alferes ranger.

Havia de tudo nos sítios onde era possível caçar, desde pombos verdes a rolas, coelhos e todo o género de animais de grande porte ou da chamada caça grossa, onde primavam elefantes, leões, leopardos, hipopótamos, crocodilos e muitas espécies de antílopes.
Tive por isso oportunidade a atirar com a velha Mauser que estava distribuída aos cipaios, e com ela fazer autênticas maravilhas.
Quem um dia viveu no mato em África, fica para sempre com a nostalgia desse continente.
Não existe qualquer outro local da Terra onde o pôr do sol, os sons emitidos pela floresta, o sossego e o nascer de um novo dia, nos causem uma impressão tão doce e tão maravilhosa como nas terras africanas, mais própriamente no seu interior.
Quando na protecção a colunas de reabastecimento de unidades militares, algures no Niassa, entre o Lugenda e o Rovuma, tínhamos por hábito levar uma caçadeira, porque muitas vezes à passagem das berliets, as galinhas saltavam aos bandos de vinte ou trinta e com dois tiros, duas ou três acabavam por tombar e ser comidas na tasca do cantieiro, que como outros deve ter desaparecido do mapa !
Não sabíamos temperá-las, a carne ficava sempre dura, e mesmo assim, com vinte anos ou pouco mais, até os ossos marchavam porque fome era mato" ! - (fim de citação)
Nós que conhecemos o ex-alferes Morais da CCaç. 2707 do BCaç. 2914, temos a certeza que foi nas picadas de Mecula até Gomba que o nosso amigo apanhou o “bichinho” da caça grossa.
Henrique Galvão, em Ronda de África, descreve as terras de Nantuego como a África profunda que jamais viu em sitio algum, e ele que se fartou de viajar pelo continente africano.



No ano de 2009, ainda havia galinhas do mato algures perto do rio Lugenda.
Meu caro amigo Morais, quando é que voltamos lá... apanhar meia dúzia de galinhas... agora que você já apreendeu a cozinhá-las !
Também pode levar a sua Remington 338.
Ficamos à espera da sua resposta !

O Natal em Mussoma


O bolo rei da "confeitaria de Mussoma", no Natal de 1970, apresentado pelo furriel Miranda (ao centro) acompanhado por Diogo e por Novais.





O aquartelamento de Mussoma - (Lugenda) - ficava situado junto ao rio Lugenda. A missão principal deste destacamento da CCaç. 2707 do BCaç. 2914, era proteger a obra de arte - (ponte sobre o rio Lugenda).






Era aqui que funcionava, uma espécie de "aduana", o posto de controlo da ponte. Havia um ninho de metralhadora e um morteiro. Podemos dizer que o pessoal apanhava sol e estava perto da "praia"... lá em baixo podia tomar banho ao lado dos crocodilos !

Em 2009 também existia aqui um controlo, agora da Reserva do Niassa. Fecham o acesso à Reserva ao fim do dia. Quem quiser visitar Mecula tem de passar a ponte nas horas em que a barreira está aberta.

domingo, 10 de janeiro de 2010

As sombras do recreio da Escola


Dois pavilhões da escola de Mecula, recuperados de novo, junto daquelas frondosas árvores plantadas por alguns de nós - Visitantes da Serra.

Foto tirada no ano de 2009 pelo enviado especial do nosso blogue.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O "liceu" de Mecula e a recuperação do património histórico


Entre os Visitantes da Serra, há alguém que ainda se lembre deste edifício? Os últimos a "fechar" a guerra não devem ter qualquer dificuldade...
Ficamos a aguardar os vossos comentários........

 Fotos tiradas no ano 2009, pelo enviado especial do nosso blogue.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O campus escolar de Mecula


 

 
O velhinho quartel colonial, agora transformado no "liceu" de Mecula.

Fotos tiradas no ano 2009, pelo enviado especial do nosso blogue.