Acompanhando com regularidade o blog e através dele avivando
recordações, boas e muito más, também em jeito de homenagem à natureza e
em particular ao esplendor das fauna e flora de Moçambique, recordo uma viagem que fiz, com o Conceição, ex-cabo e
ex-furriel miliciano graduado do meu grupo na companhia do então
administrador de Chamba de nome Sanches e de dois cipaios, o Araújo e o
Ernesto.
Chamba, destacamento
onde estava na altura, há muito que não recebia abastecimentos quer por
via aera, o Islander tinha sido alvejado da Tanzânia, logo não havia
voos para Chamba.
Também as
colunas de reabastecimento tinham deixado de visitar aquelas paragens
havia algum tempo e, então as batatas faziam muita falta, a maioria da
rapaziada era do norte de metrópole e como sabemos a batata era, de
fato, o essencial da alimentação. Havia, contudo, outro “alimento” ,
este de espiritual cuja “semente” era normalmente fornecida pelo SPM e
que era tão desejado pela rapaziada do norte, como do centro ou do sul, o
correio.
Foi com o propósito de
trazer para Chamba o correio que restava retido em Mecula, que
“engendramos” o tal passeio feito com o grupo acima e no Land-Rover da
administração de Chamba, sem passagem por picadas, isto é, sempre a
corta-mato.
Não recordo ao certo
quantos dias demoramos, revejo a imensidão da savana onde não faltou o
contacto quase terrivelmente próximo com elefantes, o atravessar das
imensas queimadas sabe-se lá por quem ateadas, ao ponto de termos que
enfiar o Lande-Rover na areia do leito seco de um rio para nos
protegermos da proximidade das chamas que, nalguns locais tivemos que
transpor com a ajuda do tradicional bater de ramos verdes e com a visão
bem nítida do que se usa designar por ” lei da selva” em que ao fugir
das chamas os pequenos roedores era devorados pelas aves de rapina que,
estrategicamente os aguardavam nos ramos altos das arvores para logo
sobre eles se precipitarem em voos picados.
A
nossa segurança era prioritária mas, atendendo ao inusitado da situação
não era credível que alguém nos supusesse por ali. Vimos abrigos de
mato recentemente abandonados mas, teriam sido certamente refúgio
noturno de caçadores furtivos.
Não
faltou obviamente caça pelo caminho e continuaram a faltar as batatas o
que não fez grande moça. Os acompanhantes africanos fizeram algumas
vezes o que eles designaram de “caril” que consistia em cozer as
vísceras dos animais, fígado, intestinos, estômago, etc., tudo aquilo
ficava com uma cor achocolatada e parecia ser delicioso.
Avistamos
já na Serra de Mecula, na falda do lado oposto ao aquartelamento,
manadas imensas de gnus (bois-cavalos) zebras, e outros herbívoros de
grande porta, aliás muitas manadas mistas, do jeito que nos surgem por
vezes nos belos documentários do National Geografic.
Após esta viagem de encanto, chegamos a Mecula onde nos recebeu o então Sr. Major Barata Alves.
Providenciou-se o envio do correio que seguiu connosco de regresso na coluna que entretanto foi organizada.
P.S. Gostaria de saber do Conceição, nunca mais houve noticias dele
Por anuí fica mais uma recordação.
Um abraço para todos
Quem não se lembra do Amaral? Um Ranger do Candulo!
E do Administrador Sanches que tinha uma espingarda americana!