segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Um “passeio” até à Serra de Mecula.


Acompanhando com regularidade o blog e através dele avivando recordações, boas e muito más, também em jeito de homenagem à natureza e em particular ao esplendor das fauna e flora de Moçambique, recordo uma viagem que fiz, com o Conceição, ex-cabo e ex-furriel miliciano graduado do meu grupo na companhia do então administrador de Chamba de nome Sanches e de dois cipaios, o Araújo e o Ernesto.
Chamba, destacamento onde estava na altura, há muito que não recebia abastecimentos quer por via aera, o Islander tinha sido alvejado da Tanzânia, logo não havia voos para Chamba.
Também as colunas de reabastecimento tinham deixado de visitar aquelas paragens havia algum tempo e, então as batatas faziam muita falta, a maioria da rapaziada era do norte de metrópole e como sabemos a batata era, de fato, o essencial da alimentação. Havia, contudo, outro “alimento” , este de espiritual cuja “semente” era normalmente fornecida pelo SPM e que era tão desejado pela rapaziada do norte, como do centro ou do sul, o correio.
Foi com o propósito de trazer para Chamba o correio que restava retido em Mecula, que “engendramos” o tal passeio feito com o grupo acima e no Land-Rover da administração de Chamba, sem passagem por picadas, isto é, sempre a corta-mato.
Não recordo ao certo quantos dias demoramos, revejo a imensidão da savana onde não faltou o contacto quase terrivelmente próximo com elefantes, o atravessar das imensas queimadas sabe-se lá por quem ateadas, ao ponto de termos que enfiar o Lande-Rover na areia do leito seco de um rio para nos protegermos da proximidade das chamas que, nalguns locais tivemos que transpor com a ajuda do tradicional bater de ramos verdes e com a visão bem nítida do que se usa designar por ” lei da selva” em que ao fugir das chamas os pequenos roedores era devorados pelas aves de rapina que, estrategicamente os aguardavam nos ramos altos das arvores para logo sobre eles se precipitarem em voos picados.
A nossa segurança era prioritária mas, atendendo ao inusitado da situação não era credível que  alguém nos supusesse por ali. Vimos abrigos de mato recentemente abandonados mas, teriam sido certamente refúgio noturno de caçadores furtivos.
Não faltou obviamente caça pelo caminho e continuaram a faltar as batatas o que não fez grande moça. Os acompanhantes africanos fizeram algumas vezes o que eles designaram de “caril” que consistia em cozer as vísceras dos animais, fígado, intestinos, estômago, etc., tudo aquilo ficava com uma cor achocolatada e parecia ser delicioso.
Avistamos já na Serra de Mecula, na falda do lado oposto ao aquartelamento, manadas imensas de gnus (bois-cavalos) zebras, e outros herbívoros de grande porta, aliás muitas manadas mistas, do jeito que nos surgem por vezes nos belos documentários do National Geografic.
Após esta viagem de encanto, chegamos a Mecula onde nos recebeu o então Sr. Major Barata Alves.
Providenciou-se o envio do correio que seguiu connosco de regresso na coluna que entretanto foi organizada.

P.S. Gostaria de saber do Conceição, nunca mais houve noticias dele
Por anuí fica mais uma recordação.

Um abraço para todos

Amaral ex furriel e alf. Mil graduado da C.Caç.2706 – 1º. Grupo

 Quem não se lembra do Amaral? Um Ranger do Candulo! 
E do Administrador Sanches que tinha uma espingarda americana!