sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Na hora da despedida !

Foto de família da CCS do BCaç. 2914 na hora da despedida de Mecula, rumo a Lisboa !

O checas do BArt 3887 chegam a Mecula

Aqui estão os primeiros checas do BArt 3887, a entrar na praça principal de Mecula. recebidos em festa pela "fanfarra popular" do BCaç.2914 e pela população local



Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um ..... CHEGARAM os CHECAS ao quartel !


Recebidos em delírio... por gente "marada e apanhada do clima... " que grita que chora... que jamais dormirá uma noite até ao dia da partida !









O ensaio das músicas para a festa do checa benvindo


A preparação da festa de chegada dos checas




É o delírio na quartel, gente que chora de alegria... acabam de chegar os checas que nos vem render ! Estamos vivos, está na hora do nosso regresso !
As imagens (de má qualidade, nunca editadas...) são o que restam de uma películas guardadas durante trinta e sete anos... mas são imagens daqueles momentos de felicidade.



Uma viatura civil que acaba de passar a porta de armas, carregada de gente que chega, de gente que faz feliz as gentes que querem partir... rumo à Europa !
Há muita gente que durante dois anos viveu aqui no "arame", que não foram de férias... há muita gente "apanhada do clima"... que se deu conta que está viva...
O fim de uma guerra não se explica... vive-se até à medula !

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Heróis de Mecula

Em frente à estação ferroviária de Maputo (Lourenço Marques) existe esta estátua dedicada aos combatentes europeus e africanos (portugueses e moçambicanos) da primeira grande guerra, que combateram a invasão alemã que vinha do Tanganica (***).


Esta imagem refere-se aos combatentes de Mecula


No ano de 1961, o alferes miliciano Vaz Lourenço Cmdt de Mecula visita o túmulo do tenente Viriato Lacerda, prestando a merecida homenagem ao herói ali sepultado.


Esta campa de Viriato Lacerda foi fotografada por Fernando Ferreira furriel miliciano fotocine do BCaç. 2880 / BCaç.2914, no ano de 1970.


O tenente Viriato Lacerda tombou em combate na Serra Mecula no ano de 1917, pertencia à 21ª Companhia do Capitão Curado, encontra-se sepultado na serra junto à antiga administração de Mecula Velha.

Depois de resistirem alguns dias (3 a 8 de Dezembro) à invasão alemã, os portugueses acabaram por perder a posição militar de defesa da Serra Mecula.
São os primeiros combatentes da Serra Mecula. O post de hoje é dedicado aos Heróis de Mecula da primeira grande guerra mundial.

Para ler a história completa do assalto à Serra Mecula

(***) Tanganica foi uma república do leste africano pertencente à Comunidade Britânica, cujo nome veio do Lago Tanganica, que formava sua fronteira ocidental. Foi uma colónia alemã desde o ano de 1880 até 1919. Após a Primeira Guerra Mundial, foi colónia britânica entre 1919 e 1961. Em 1964, foi unida à ilha de Zanzibar, formando a Tanzânia---(fonte: Wikipédia)

domingo, 30 de agosto de 2009

Completamente perdidos no éter !

Debaixo de chuva, seis Berliets atascadas, a coluna parada à espera de melhoria do tempo... que mais nos havia de acontecer ?

As transmissões não funcionavam, estivemos completamente perdidos no éter hertziano !



Era preciso avisar Mecula ou o Candulo da nossa situação, para eles não ficarem preocupados.
Mandavam as regras de segurança que o Cmdt da Coluna usasse o caderninho fornecido pelos Criptos e codificasse a mensagem. Assim foi feito, o pior estaria para vir. Ao fim de três longas horas, o operador do rádio ainda não tinha conseguido comunicar com Mecula nem com o Candulo mesmo depois de ter montado a antena dipolo.
O homem perdeu a paciência, já esgotado... deu-se por vencido !

Mandar uma viatura a Mecula era uma missão de grande risco, podiam ser emboscados ou rebentar uma mina.

O Racal funcionava por canais, cada batalhão tinha uma frequência atribuída. Pelos canais normais nada feito... ninguém respondia.
O rádio Racal também tinha um ou dois canais generalistas (emergência). O nosso amigo rádio montador explicou-nos um dia que em casos deste género se podia tentar usar uma estação relé (intermediário) e fazer passar a mensagem de ponto a ponto.
Pertencendo todos nós ao Batalhão dos Rangers, é óbvio que ao longo do tempo fomos "contaminados" pela sua doutrina e quando tínhamos um problema para resolver a tentação era "levar a carta a Garcia" mesmo que fosse preciso ultrapassar alguma legalidade...
Chamamos o operador de rádio a quem dissemos: Um Ranger não tem medo de porradas da Rádio Escuta... ele resolve sempre os problemas !
Vamos usar o canal da emergência, fazer uma chamada geral à frequência... alguém no Niassa, Cabo Delgado ou Tete vai ouvir o nosso apelo.
Dito e feito. De imediato, responde a Força Aérea de Vila Cabral com sinal de rádio nove mais cinco a partir o ponteiro...(pudera, a antena dipolo estava para lá virada).

- Olá Pescador... há algum problema?
Respondemos: O Pescador não consegue avisar a Varina, estamos atascados na picada.
Responderam: Ó Pescador mantém o rádio ligado, vamos já avisar a Varina!

Não tinham passado dez minutos quando a Força Aérea nos chama e nos diz que estava a Varina avisada e sempre que fosse preciso eles estavam ao nosso dispor.

Afinal foi tudo tão fácil... a experiência e aquele profissionalismo dos homens das transmissões da Força Aérea resolveram o nosso grande problema em duas penadas.
São estes exemplos, de grande solidariedade e grande cumplicidade, muitas vezes à revelia das NEPs e outras legalidades... que cimentaram a nossa amizade e por isso aqui estamos trinta e nove anos depois a dedicar este post aos camaradas da Força Aérea de Vila Cabral que em 1970/72 tanto nos ajudaram.
Um abraço para todos eles.

Um conto de:
Ernesto Fernandes
Ex-furriel miliciano sapador do BCaç. 2914

sábado, 29 de agosto de 2009

Minas e Atascanços !

Uma Berliet "atascada" até aos eixos... e agora ?


Os guinchos ligados até partir os cabos de aço !



Atapetar a picada com ramagem de árvores era uma das soluções mais utilizadas... antes de atascar. Depois de atascar, os sacos de serapilheira, as ramagens eram a única solução de que geralmente se dispunha.

Quantas vezes se tinha de transferir a carga da viatura atascada, ou esperar dois dias que viesse o sol... para continuar a viagem !



Depois das minas, os ATASCANÇOS eram o maior problema das colunas militares.
Quando chegava a época das chuvas, naquelas picadas em terrenos alagadiços, principalmente com viaturas carregadas era quase impossível transitar.
Para além dos guinchos das viaturas, os Sapadores dispunham de um TIRFORs com um cabo de 25 mm que arrastava qualquer Berliet desde que houvesse uma árvore onde amarrar o dito cujo aparato. De vez em quando... arrancavam-se umas árvores...

Um certo dia a caminho do Candulo, antes das Pedreiras, atascamos seis Berliets em série. Na tentativa de salvar a última fomos fazendo comboio ao ponto de ficar tudo atascado !
Resultado: esperar, dois dias, que parasse de chover... chegou ao Candulo a carga toda estragada!

Quando se tentava rebocar a última viatura com o cabo de aço esticado foi dada ordem a um soldado sapador, de alcunha o "Brasileiro", para que se desviasse do cabo de aço pois este podia partir e provocar-lhe a morte.
Como ele não obedecesse, o furriel enfiou-lhe com a chapa de couce da espingarda G3 no toráx fazendo tombar por terra o soldado desobediente. O soldado jurou ali mesmo que na primeira oportunidade mataria o furriel mostrando-lhe a bala marcada.
Passados cinco minutos rompeu-se o cabo de aço que cortou uma árvore de cerca de 20 cm de diâmetro !
O "Brasileiro" ao verificar o sucedido desata a chorar... e corre para o furriel abraça-o e diz-lhe:
Você salvou-me a vida, bendita coronhada que me deu. O furriel ordenou-lhe de novo: Vai para a tua viatura, hoje não fazes mais nada, reza à Nossa Senhora de Fátima pois já tiveste o teu dia de sorte!

Moral da história: Também na guerra se pode passar de besta a bestial... se não tivesse partido o cabo de aço, o furriel era uma besta e talvez pudesse ter tido um processo disciplinar.
Como aconteceu o contrário, viu reforçada a sua autoridade perante o grupo que comandava e ainda ouviu de um soldado moçambicano este elogio : o nosso "furriel tem feitiço"!
Há dias de sorte!

As fotos são de Orlando Azevedo (CCaç.2706) e Júlio Marques (BCaç.2836).

Um conto de:
Ernesto Fernandes
Ex-furriel miliciano sapador do BCaç.2914

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Safaris Gomba

Várias peças de caça abatida, era uma fartura de carne de caça.



A fartura era tanta que ainda dava para fornecer a população local de Gomba, esta imagem dá ideia do "talho" ali ao ar livre...


Este post é dedicado ao pelotão da Comp. Caçadores de Marrupa que em 1962 estavam em Gomba sob o comando do Alferes Miliciano Vaz Lourenço.

As fotos fazem parte da colecção que Vaz Lourenço disponibilizou para o blogue.