domingo, 30 de agosto de 2009

Completamente perdidos no éter !

Debaixo de chuva, seis Berliets atascadas, a coluna parada à espera de melhoria do tempo... que mais nos havia de acontecer ?

As transmissões não funcionavam, estivemos completamente perdidos no éter hertziano !



Era preciso avisar Mecula ou o Candulo da nossa situação, para eles não ficarem preocupados.
Mandavam as regras de segurança que o Cmdt da Coluna usasse o caderninho fornecido pelos Criptos e codificasse a mensagem. Assim foi feito, o pior estaria para vir. Ao fim de três longas horas, o operador do rádio ainda não tinha conseguido comunicar com Mecula nem com o Candulo mesmo depois de ter montado a antena dipolo.
O homem perdeu a paciência, já esgotado... deu-se por vencido !

Mandar uma viatura a Mecula era uma missão de grande risco, podiam ser emboscados ou rebentar uma mina.

O Racal funcionava por canais, cada batalhão tinha uma frequência atribuída. Pelos canais normais nada feito... ninguém respondia.
O rádio Racal também tinha um ou dois canais generalistas (emergência). O nosso amigo rádio montador explicou-nos um dia que em casos deste género se podia tentar usar uma estação relé (intermediário) e fazer passar a mensagem de ponto a ponto.
Pertencendo todos nós ao Batalhão dos Rangers, é óbvio que ao longo do tempo fomos "contaminados" pela sua doutrina e quando tínhamos um problema para resolver a tentação era "levar a carta a Garcia" mesmo que fosse preciso ultrapassar alguma legalidade...
Chamamos o operador de rádio a quem dissemos: Um Ranger não tem medo de porradas da Rádio Escuta... ele resolve sempre os problemas !
Vamos usar o canal da emergência, fazer uma chamada geral à frequência... alguém no Niassa, Cabo Delgado ou Tete vai ouvir o nosso apelo.
Dito e feito. De imediato, responde a Força Aérea de Vila Cabral com sinal de rádio nove mais cinco a partir o ponteiro...(pudera, a antena dipolo estava para lá virada).

- Olá Pescador... há algum problema?
Respondemos: O Pescador não consegue avisar a Varina, estamos atascados na picada.
Responderam: Ó Pescador mantém o rádio ligado, vamos já avisar a Varina!

Não tinham passado dez minutos quando a Força Aérea nos chama e nos diz que estava a Varina avisada e sempre que fosse preciso eles estavam ao nosso dispor.

Afinal foi tudo tão fácil... a experiência e aquele profissionalismo dos homens das transmissões da Força Aérea resolveram o nosso grande problema em duas penadas.
São estes exemplos, de grande solidariedade e grande cumplicidade, muitas vezes à revelia das NEPs e outras legalidades... que cimentaram a nossa amizade e por isso aqui estamos trinta e nove anos depois a dedicar este post aos camaradas da Força Aérea de Vila Cabral que em 1970/72 tanto nos ajudaram.
Um abraço para todos eles.

Um conto de:
Ernesto Fernandes
Ex-furriel miliciano sapador do BCaç. 2914

sábado, 29 de agosto de 2009

Minas e Atascanços !

Uma Berliet "atascada" até aos eixos... e agora ?


Os guinchos ligados até partir os cabos de aço !



Atapetar a picada com ramagem de árvores era uma das soluções mais utilizadas... antes de atascar. Depois de atascar, os sacos de serapilheira, as ramagens eram a única solução de que geralmente se dispunha.

Quantas vezes se tinha de transferir a carga da viatura atascada, ou esperar dois dias que viesse o sol... para continuar a viagem !



Depois das minas, os ATASCANÇOS eram o maior problema das colunas militares.
Quando chegava a época das chuvas, naquelas picadas em terrenos alagadiços, principalmente com viaturas carregadas era quase impossível transitar.
Para além dos guinchos das viaturas, os Sapadores dispunham de um TIRFORs com um cabo de 25 mm que arrastava qualquer Berliet desde que houvesse uma árvore onde amarrar o dito cujo aparato. De vez em quando... arrancavam-se umas árvores...

Um certo dia a caminho do Candulo, antes das Pedreiras, atascamos seis Berliets em série. Na tentativa de salvar a última fomos fazendo comboio ao ponto de ficar tudo atascado !
Resultado: esperar, dois dias, que parasse de chover... chegou ao Candulo a carga toda estragada!

Quando se tentava rebocar a última viatura com o cabo de aço esticado foi dada ordem a um soldado sapador, de alcunha o "Brasileiro", para que se desviasse do cabo de aço pois este podia partir e provocar-lhe a morte.
Como ele não obedecesse, o furriel enfiou-lhe com a chapa de couce da espingarda G3 no toráx fazendo tombar por terra o soldado desobediente. O soldado jurou ali mesmo que na primeira oportunidade mataria o furriel mostrando-lhe a bala marcada.
Passados cinco minutos rompeu-se o cabo de aço que cortou uma árvore de cerca de 20 cm de diâmetro !
O "Brasileiro" ao verificar o sucedido desata a chorar... e corre para o furriel abraça-o e diz-lhe:
Você salvou-me a vida, bendita coronhada que me deu. O furriel ordenou-lhe de novo: Vai para a tua viatura, hoje não fazes mais nada, reza à Nossa Senhora de Fátima pois já tiveste o teu dia de sorte!

Moral da história: Também na guerra se pode passar de besta a bestial... se não tivesse partido o cabo de aço, o furriel era uma besta e talvez pudesse ter tido um processo disciplinar.
Como aconteceu o contrário, viu reforçada a sua autoridade perante o grupo que comandava e ainda ouviu de um soldado moçambicano este elogio : o nosso "furriel tem feitiço"!
Há dias de sorte!

As fotos são de Orlando Azevedo (CCaç.2706) e Júlio Marques (BCaç.2836).

Um conto de:
Ernesto Fernandes
Ex-furriel miliciano sapador do BCaç.2914

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Safaris Gomba

Várias peças de caça abatida, era uma fartura de carne de caça.



A fartura era tanta que ainda dava para fornecer a população local de Gomba, esta imagem dá ideia do "talho" ali ao ar livre...


Este post é dedicado ao pelotão da Comp. Caçadores de Marrupa que em 1962 estavam em Gomba sob o comando do Alferes Miliciano Vaz Lourenço.

As fotos fazem parte da colecção que Vaz Lourenço disponibilizou para o blogue.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

As minas do Candulo





O alferes miliciano Orlando de Azevedo, na foto, junto a uma Berliet minada da colecção existente no aquartelamento do Candulo em 1970-1972 (CCaç. 2706 /BCaç. 2914).

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Que dia tão triste !

Uma Berliet Tramagal em estado novo


Uma Berliet minada com mina normal de 4 a 5 kg de TNT - (1971)


Os camaradas artilheiros do BArt 3887, em socorro das vítimas, na picada de Mecula até ao cruzamento do Candulo.


Só uma MEGA_Mina de mais de 25 kg de TNT era capaz de fazer estes estragos ... no dia 23 de Julho de 1973.



A estratégia militar da Frelimo consistia em: evitar o contacto com as forças portuguesas (evitando baixas do lado deles), provocar o desgaste do material e fazer feridos e estropiados que mais tarde em Lisboa podiam provocar a queda do regime.
Este ataque sai fora dessa estratégia, é um autêntico atentado terrorista com o objectivo de matar, matar muita gente... contrariando as leis da guerra (Genebra), com a utilização de uma "arma de destruição maciça" !
A maior mina da guerra colonial na Serra Mecula !

Da explosão desta mina, resultaram onze mortos e dois feridos graves.
(Entre os mortos dois furriéis milicianos)

António Rosa, esteve lá, escreve assim para o blogue:
Ler texto integral, aqui no Arquivo da Serra

sábado, 22 de agosto de 2009

Matondovela (antigo quartel do Candulo)

Um mapa da Reserva do Niassa



Um mapa do tempo colonial, publicado na internet por uma Comp. de Cavalaria.


O aquartelamento do Candulo, uma foto de Orlando de Azevedo da CCaç. 2706.


Em resultado de muita documentação publicada, e também pela pesquisa de Orlando Azevedo e Ferreira Pinto podemos confirmar que MATONDOVELA é o nome da nova povoação situada junto à pista do antigo aquartelamento do Candulo.
As distancias nos mapas (cerca 90 Km do cruzamento de Mecula estão correctas).

Coordenadas:
CANDULO : 12º 04´ S 37º 00´E

CHIULÉZI : 12º 18´ S 36º 41´50" E

As coordenadas publicadas em vários documentos, confirmam a localização no Google.

Vê-se a pista do Candulo e a pista do Chiulézi (Google) ( confirmem isto ???)

Segundo o Pedrosa, o Chiulézi ficava a 60 km do Candulo. No mapa a picada volta a passar o rio Chiulézi a meio caminho entre o Candulo (Matondovela) e Valadim (Mavago). A que distância ficava a ponte do Chiulézi do quartel?
Perguntas para os "antigos residentes" responderem.

Não sabemos a razão do novo nome (Matondovela), oportunamente divulgaremos o resultado das pesquisas que estamos a efectuar.